ó gente da minha terra #2

denominação: "a vizinha observadora"
profissão: desocupada

Mora na minha rua e passa os dias à janela a ver tudo o que acontece.
Geralmente é a primeira a saber das desgraças, maleitas e infortúnios da vizinhança.
Já chegou a ter o descaramento de dizer, por nos ver sair de casa mais do que uma vez no mesmo dia "beeeeeeem, vocês é só passeio!"
"Pois é dona Maria/Fernanda/Ermelinda, só a você ninguém a vê sair daí!"
É setubalense de gema e quando nos chama é assim: "migã,atão, tá tude bein?"
É chata, impertinente, tem uma carrada de filhos e já alguns netos, que, quando ela está a preparar as refeições, ocupam o seu poleiro na varanda do terceiro andar, a reparar se alguma pedra da calçada está fora do lugar, se o cão da vizinha fez chichi no pneu do nosso carro, ou se o vizinho do andar de cima tem uma amante.
Ela é, na verdade, um serviço público. Tem uma língua solta e afiada, ouvidos de tísica, olhos de falcão e um copo como arma para ouvir à portas das pessoas se tiver alguma dúvida na história.
Já devia ter pedido um subsidiozinho à U.E. para se sustentar. Afinal, se não fosse ela, como iríamos saber quem eram os culpados dos acidentes ali na estrada?
Ah pois é, bebé!